Por Marcílio Amorim
Dia desses saí de casa correndo, com a ânsia de quem busca um sabor diferente para matar a fome. Naquela noite, com a minha boca a salivar, o prato principal era Valeria Oliveira. Embora tenha feito o show de abertura do Bourbon Street Festival, fazendo as honras da casa para a cantora Tricia 'Teedy' Boutté & The Blootleg Operation, Valéria Oliveira foi o banquete de uma noite de verdadeiros gourmets da música.
Vou explicar o “gourmets da música”: a receita da boa música não está distante do segredo de um bom prato. Tempero, sabor, regozijo, gosto, cor e o ponto certo, a música tem. Roteiros, improvisos, desafinos e experimentações a comida também tem!
Fazia tempo que eu não sentava e assistia a um show completo da cantora Valéria Oliveira. Não consigo precisar data, mas a última vez que assisti a um show de Valéria foi antes de minha partida para Porto Alegre-RS (2005), antes mesmo do surgimento do Projeto Retrovisor, do qual Valéria faz parte e que pude petiscar durante a última SPBC.
Sai de Natal deixando Valéria abraçada a um violão.
Mesmo com a amizade verdadeira que prezo por Valéria, eu sentia um leve incômodo com o “aprisionamento” da cantora ao seu violão em shows ao vivo. Por timidez e por questões que não cabem aqui, Valéria passava a maior parte do show a dedilhar o seu instrumento musical. Ganhávamos o apuro da violonista que Valéria é e perdíamos muito da performance da artista Valéria.
Nunca seria capaz de duvidar da capacidade de renovação de nossa cantora potiguar mais bem sucedida dentro e fora do Estado (do país). Ainda mais depois que recebi um email da minha também amiga Titina Medeiros, enquanto ainda morava no sul, que dizia: “Você precisa assistir ao novo show de Valéria. Ela está do jeito que você gosta e sempre sonhou. Ela começa o show dançando em uma sombra chinesa...”.
Não tive dúvidas que Valéria tinha se reinventado mais uma vez. Mas voltando aos dias de hoje...
Resolvi esperar um pouco e digerir aquele show, para que esse texto fosse uma reflexão sobre a atual fase de Valéria Oliveira ao invés de pontuar uma apresentação sua. Mas fica claro ao ver Miss Oliveira no palco, que a cantora transcende aquilo que conhecemos como música local. Que sua maturidade profissional se traduz em segurança e que não há nenhum resquício daquela crosta de mediocridade que fazem uma artista nascer e morrer fazendo cover em barzinho.
Outra coisa que ficou clara para o público foi a relação de harmonia na dobradinha com seus músicos, em especial com Jubileu Filho, velho parceiro de estrada! A descoberta da Valéria compositora também me faz feliz. Trocar letras e notas com gente como Simona Talma, Khystal, Romildo Soares e Luiz Gadelha fizeram um bem danado a Valéria, que hoje sabe mostrar o que sente. Mas a intérprete também estava lá, “Dê Um Role” ( Moraes Moreira e Galvão) e “Quando” (Roberto Carlos) foram os melhores exemplos disso! Saí do excelente espaço do Ocean Palace – ponto certeiro da produção e super mal explorado e frequentado por natalenses – querendo mais. Da entrada à sobremesa tinha sido Valéria e guloso como sou já estava querendo outro show. Outro momento sublime foi a participação no show da cantora americana, na canção All of me (Disse alguém). Valéria não deveu nada e ainda pediu troco!
Estão sentindo falta de algo? E a Tricia? A Tricia fez o que todo mundo esperava: belíssimo show, inspirado e suingado como uma legítima representante made in New Orleans. Mas foi aperitivo! Quem surpreendeu mesmo foi Valéria. Prato cheio!
Foto: Sueli de Sousa
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