15 de out. de 2010
O teatro que vem de Mossoró
Por Marcílio Amorim
Muito se fala na cultura de Mossoró, na relação que a cidade estabeleceu com os seus artistas e no sucesso da formação de platéia impulsionada pelos grandes autos e espetáculos cênicos. Comparações à parte, dá até uma certa “inveja” à classe artística potiguar, que tanto sonha e almeja com um “mundo ideal” para fazer a sua arte. Talvez, esse “mundo ideal” que o artista natalense tanto almeja, comece a ser construído com a chegada de uma nova liderança ao poder. A cada ciclo que se inícia, com ele se renovam as esperanças.
Já na primeira edição do Festival Agosto de Teatro, o teatro de Mossoró teve uma representação de muita personalidade em palcos natalenses. E não foi diferente este ano. Os dois espetáculos selecionados para esta mostra revelam a boa fase e a maturidade que os fazedores de teatro mossoroense têm na continuidade dos seus trabalhos.
Uma das funções de um festival de teatro é a troca de experiência e conhecimento entre artistas, públicos, críticos... Após duas apresentações elogiadas pelo público e pelos apreciadores, os atores dos grupos “O Pessoal do Tarará” e “Grupo Focart de Teatro” bateram um papo rápido antes de pegar a estrada mambembe do ator e partir para novos trabalhos. Muito temos a aprender com o teatro que vem de Mossoró.
“As Bondosas”
Os apreciadores do Festival atribuíram ao espetáculo “As Bondosas”, do Grupo Focart de Teatro, “um frescor no Agosto de Teatro”. Para o grupo avaliado, não poderia existir elogio mais apropriado ao seu trabalho. A companhia nasceu em 2001, como uma ferramenta de aprendizado de alunos de uma escola particular de Mossoró. O professor/ator Alexandre Neves, encontrou nas artes dramáticas uma forma de frisar o aprendizado dentro de sala de aula.
Até que em 2009, Alexandre estava sentindo necessidade de subir no palco, recrutou Júnior Félix e Sandbergson Bruno e resolveram montar o texto “As Bondosas”, de Ueliton Rocon.
O Festival Agosto de Teatro se apaixonou pelas loucuras de Angústia, Prudência e Astúcia. Que transformam um velório no lugar mais divertido e revelador do mundo. “’As Bondosas’ é o primeiro espetáculo dessa nova fase do grupo. Ficamos felizes e surpresos com a avaliação do nosso trabalho e a receptividade do público de Natal”, a peça está na sua terceira apresentação.
A busca pela feminilidade está bem nítida na relação dos atores com os personagens e com a opção de uma diretora mulher (Lígia Kiss), conduzindo os atores. “Não queríamos dialogar com aquele teatro afetado e escrachado feito por algumas pessoas. Estávamos em busca do feminino e não do teatro travestido.”, afirma Júnior Félix.
O espetáculo “As Bondosas” (Cia. Focart de Teatro – Mossoró/RN) deixaram um gostinho de quero mais e pretendem voltar rapidinho para uma temporada em terras potiguares. Vamos torcer!
“O Pulo do Gato”
O espetáculo “O Pulo do Gato”, do Grupo de Teatro “O Pessoal do Tarará”, foi um soco no estômago do Festival Agosto de Teatro. A utilização de linguagens não verbais e a opção de falar de humanos através do universo dos cães e gatos, acaba se tornando uma grande surpresa para o público.
O grupo “O Pessoal do Tarará” nasceu de uma dissidência de atores oriundos do grupo universitário Grutum, que sonhavam em viver do teatro. Eles conseguiram! “O início foi bem difícil. Fizemos rifas e nos endividamos para conseguir montar o primeiro espetáculo.”, conta o ator Madson Ney, que garante que o grupo hoje sobrevive de exclusivamente de teatro. “Mantemos a nossa família e os nossos filhos com o nosso teatro.”.
O grupo atribui o resultado assistido em “O Pulo do Gato” ao processo de construção do trabalho do grupo. “O processo que culminou com ‘O Pulo’ nasceu de um exercício recorrente do grupo e um trabalho continuado desde o primeiro espetáculo. Achávamos a idéia muito interessante e o momento certo de desenvolvê-la foi com a premiação do grupo no Programa BNB de Cultura. A partir daí centramos todas as forças nesse trabalho.”, afirma Alex Peteka. O resultado é impressionante!
Além de circular pelo Brasil com o seu repertório de espetáculos, o grupo “O Pessoal do Tarará” se prepara para levar aos palcos mossoroenses a história da Rádio Difusora de Mossoró, que em 2011 completa 60 anos. “Vamos usar a história da rádio como mote para falar de outras coisas, como o bebê que nasceu voando em Mossoró”, disse Maxson Ariton.
14 de out. de 2010
Papinho com Racine Santos: “O texto é a chama que ilumina o ator”
Entrevista com Racine Santos – Dramaturgo
Racine Santos teve seus primeiros contatos com teatro em Recife, nos anos 1960, quando conheceu Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho e Luiz Marinho. Criou, junto deste último, de Altimar Pimentel, Tácito Borralho e outros, a Associação dos Dramaturgos do Nordeste, que preside até hoje.
A Grande Serpente
Fiquei de boca aberta com a montagem do texto “A Grande Serpente”, pelo Grupo Imbuaça (SE). Esse texto já tinha sido montado por Moncho Rodriguez, em Recife. Eu já tinha negado ele para várias pessoas e não pensei duas vezes em autorizar a montagem do Imbuaça. O Imbuaça é o Imbuaça! João Marcelino acertou em optar pelo minimalismo e conseguiu enxergar a ligação que o texto tem com o teatro grego. Assisti a estréia e fiquei muito emocionado!
O papel da dramaturgia
Como presidente da Associação Nordestina dos Dramaturgos me preocupo muito com as questões que norteiam a dramaturgia teatral. Já realizei sete encontros de dramaturgos nordestinos e sempre estou em busca dessas discussões. Graças a Deus saímos dos anos 80, quando afirmavam que “o texto era um mero pretexto”. Acredito que o texto de um espetáculo é a chama que ilumina o ator. Se o texto não cumpre este papel, ele não presta! A ação está contida na fala ou não está.
Processo de produção de texto
Escrevo assistindo ao espetáculo na minha frente. Escrever teatro precisa de vivência. O dramaturgo precisa saber o que é palco e tem que olhar ao seu redor para continuar tendo base nas questões humanas. O ódio, o amor, a vingança, a paixão, a traição... São sentimentos comuns a qualquer ser mortal, não há como fugir deles. E tenho a mania de só escrever teatro à mão e com lápis grafite. Também reescrevo muito os meus textos. Basta dizer que o “Bye, Bye Natal!” que foi para o palco foi reescrito umas vinte vezes!
Novos Projetos
Eu me isolei nos últimos anos por questões pessoais, mas o meu trabalho não cessa. Estou reescrevendo um espetáculo chamado “Maria do O”, adaptação do texto “A Prostituta Respeitosa”, de Jean Paul Sartre. Também estou adaptando o conto “Um gato na paisagem” para um monólogo. Devo deixar os textos guardados na gaveta até o momento certo de ser montado.
12 de out. de 2010
O encantador de atores
Entrevista: Amir Haddad – diretor teatral
Amir Haddad sabe que o teatro precisa dele, por isso, no alto dos seus 73 anos de vida, mais de 50 de teatro, ainda é um operário diário do fazer teatral. Apaixonado pelo Nordeste e pelo teatro que nasce nesse chão, Amir não hesitou ao receber o convite do Festival Agosto de Teatro para fazer parte da banca apreciadora dos 18 espetáculos apresentados na mostra. Função que Amir está desempenhando com um carinho paterno pelo teatro potiguar. Suas avaliações nas apreciações dos espetáculos são verdadeiras aulas de teatro e de vida. Vida de quem sempre fez arte.
Pouco antes do início do Festival Agosto de Teatro o diretor falou sobre os atores nordestinos, sobre a maratona de 18 espetáculos que vai assistir e sobre o amor que sente pelo nordeste. Confira!
Relação com Natal
“Tenho uma relação amorosa com Natal, Mossoró e com o Rio Grande do Norte inteiro. Aliás, sou apaixonado pelo nordeste. Acredito muito mais na vida e no futuro quando venho ao nordeste e encontro um bando de pessoas fazendo teatro como loucos. A esperança do teatro está aqui no nordeste.”
Maratona Teatral
“Eu fico exausto! Quando eu era jovem assistia tudo que passava pela minha frente. Há muito tempo não assisto dezoito espetáculos seguidos. Estou curioso em saber qual será a minha reação. Não tenho expectativa nenhuma, faço questão de ter o mínimo de informação sobre os espetáculos que vou assistir.”
Atores nordestinos
“O ator nordestino é muito mais desarmado e verdadeiro. Vejo em vocês uma representação muito menos ilusionista e muito mais poética. Outra coisa que me encanta no ator nordestino é a tradição do jogo. O jogo flui! Vocês trazem a características que sumiram do teatro brasileiro com a força do ‘teatro realista da burguesia protestante capitalista’.”
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